Gestora dos EUA tem até US$ 150 mi para startups brasileiras; por quê?

Capria Ventures busca negócios no Brasil para expandir estratégia global

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Por Erick Matheus Nery

A distância geográfica não é um problema para a indústria do venture capital (VC). Esse é o raciocínio da Capria Ventures, que conta com um cheque de até US$150 milhões para iniciativas no Brasil e ao redor do mundo. Porém, qual seria o interesse desta companhia sediada nos Estados Unidos nas startups verde e amarelas?

“Gostamos dos empreendedores, da inovação, do raciocínio de que eles estão tentando solucionar problemas reais de pessoas e comunidades reais. Uma vez que dá certo no Brasil, as iniciativas podem ser expandidas para toda a América Latina e outros países”, revela a argentina Susana Garcia Robles, managing partner da Capria Ventures, em entrevista ao Faria Lima Journal (FLJ).

Com uma trajetória consolidada na Índia e mais de US$ 200 milhões sob gestão, a empresa começou a desenhar uma estratégia global de investimentos no “longínquo” 2019 pré-pandemia. Assim nasceu o primeiro fundo global da companhia, que encerrou seus investimentos no final do ano passado com um patrimônio de US$57 milhões.

“Para conhecer mais esse mercado global, criamos primeiro um fundo de fundos. Aportamos em 14 fundos de 12 companhias, pois nossa estratégia é considerar os fundos como sócio-parceiros nesses investimentos. Nessa primeira fase, foram realizados investimentos em sete fundos da América Latina”, detalha a executiva.

E agora, com mais conhecimento sobre as realidades locais de países emergentes, a Capria volta ao seu “DNA” para investir diretamente nas empresas, em rodadas da série A e A+ – as primeiras rodadas significativas de investimentos das startups junto com investidores profissionais.

Além do foco em empresas com soluções voltadas para o clima e no uso da inteligência artificial, temas que dominam a indústria de inovação atualmente. Gestores buscam por agtechs, foodtechs e fintechs que brilhem seus olhos.

“Já temos investimentos em dois fundos na América Latina, dois fundos na Índia e cinco companhias: dessas, três são latinas e duas, brasileiras”, ressalta.

“Não temos cotas por região. Temos o privilégio de saber o que está acontecendo em tantos continentes, então vamos olhar para todos. Se, no final, tivermos mais empresas na América Latina do que na África, é porque o mercado estava melhor lá”.

E O QUE O BRASIL TEM?

Segundo Robles, o principal motivo para a gestora investir no Brasil é compreender que o país é um hub tecnológico na América Latina, assim como o México. Dessa forma, soluções criadas aqui podem ganhar escala tanto nacionalmente como globalmente – primeiro na região e, em seguida, por todo o mundo.

“Comecei na indústria de VC em 1999, quando o Brasil era ‘muito Brasil’, não tinha necessidade de expandir. Agora, vocês entenderam que podem exportar suas empresas para outros países da região e do mundo”, afirma a argentina, executiva que conheceu a realidade econômica brasileira após trabalhar no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Além dos países latinos, a estratégia do fundo também busca oportunidades na própria Índia e em nações como Egito, Nigéria e Quênia. “É melhor ter uma estratégia focada do que pensar em atacar todos os países”, ressalta.

Questionada pelo FLJ, a profissional explica que os recursos desse fundo são oriundos de aportes de family offices e investidores individuais. 

“Eles entendem a oportunidade de investir globalmente no Cone Sul, que tem desafios e oportunidades muito similares. Algo aprendido no Brasil pode ser aplicado na África. O talento está em todas as partes, o que falta é o financiamento”, completa.