340 views 9 mins

Negócios: investimentos em startups tornam-se mais seletivos

em Manchete Principal
quarta-feira, 09 de agosto de 2023

O mundo parece ter ficado com o cobertor mais curto, mas os negócios não param.

Da Redação

Cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém, ensina o dito popular. Assim, mesmo os sofisticados mercados de capitais acabam se pautando por esta máxima em tempos de reorganização financeira. De acordo com a plataforma Crunchbase, o financiamento global de capital de risco caiu 53% no primeiro trimestre deste ano, em relação a igual período do ano anterior, para US$ 76 bilhões, incluindo duas “mega” rodadas de OpenAI e Stripe, que, juntas, levantaram bilhões nos últimos meses. Para a Capria Ventures, focada em startups, os investimentos no Brasil geram boas oportunidades, por isso apostam na Agrofy (marketplace b2b latino-americano para empresas agrícolas) e na Kueski (empréstimo em toda a região por meio de big data e análises avançadas), e, muito em breve, apresentará a terceira empresa-parceira. Compromisso com mudanças climáticas e indicadores ESG serão observados no novo investimento, adianta Susana Garcia-Robles, sócia sênior da Capria Ventures.

Depois de anunciar a primeira etapa do seu Global South Fund, focado em 20-25 startups de tecnologia em estágio inicial em mercados crescentes, incluindo a América Latina, Susana Garcia comentou o atual quadro de investimentos no mundo e, em especial, na região. “A América Latina não foi exceção à correção de mercado nas avaliações. A velocidade com que as empresas estavam captando recursos e os curtos intervalos entre essas rodadas, incluindo a fase de valorações inflacionadas entre elas, obviamente resultaria em um colapso”, analisou ela, em entrevista ao jornal Empresas&Negócios. E completou: “Mas não vamos culpar apenas os fundadores, havia investidores que ofereciam quantias inimagináveis de dinheiro a startups que não precisavam dele, os pressionando por uma expansão rápida, sem entender se a equipe estava suficientemente preparada”.

Sobre a visão da Capria para o Brasil e o Continente, a executiva destaca a importância dos investimentos de impacto, do ponto de vista de aporte de capital e dos fundamentos ESG (sigla, em inglês, para práticas ambientais, sociais e de governança), considerados aqui os fatores de mudanças climáticas. Em tom cordial, ela explica que a sua Venture Capital é especializada no Sul Global. “Então, nosso capital é considerado um capital ‘paciente’. Investimos em empresas de tecnologia dos nossos segmentos-alvo com as quais já mantemos um relacionamento há algum tempo, através de parceiros em diferentes regiões”. E adianta: “Queremos estar na tabela de capitalização por mais de uma rodada. Portanto, nosso horizonte é ver essas empresas passarem pelas séries de investimentos A, A+ e B e depois deixar a rodada de investimentos”, frisa.

Relativamente ao clima, ela considera esta uma questão “muito relevante, que vai além das verticais mais óbvias”. No seu dia a dia operacional, a Capria enxerga “uma enorme oportunidade” de investimento em empresas que estão mitigando as mudanças climáticas. “Vamos nos concentrar em empresas que impactam o meio ambiente de maneira positiva, principalmente por meio de nossos investimentos em agtech e foodtech, e no espaço de mobilidade. Essas empresas terão as características e os modelos que temos expertise, com negócios voltados para o futuro e com o propósito de mitigação de impacto climático incorporado”, diz ela, adiantando que seus investimentos não contemplam empresas com muitos ativos.

HUB na AL
Perguntada sobre os riscos de se investir no Brasil e América Latina, de modo geral, Susana Garcia, que também é consultora executiva da Associação para Investimento de Capital Privado na América Latina (LAVCA), comentou: “Os principais riscos são semelhantes aos das startups nos mercados desenvolvidos, mas a esses riscos é preciso acrescentar a maior volatilidade dos mercados emergentes, os capitais mais rasos, a super regulamentação em alguns setores e, portanto, menos visíveis globalmente”.

Ainda assim, o Brasil é considerado um dos dois principais hubs na América Latina do Fundo GS da Capria Ventures. Esses investidores entendem que o Brasil reúne o que há de melhor em termos de oportunidade, com chances de expansão, crescente adoção de tecnologia por fundadores inovadores e resilientes, e um dos ecossistemas de VC (Venture Capital) mais avançados da região, medido pelo número de fundos e investidores. “Temos parcerias no Brasil como SP Ventures, NXTP e Valor Capital e investimos na Agrofy e na Home Agent e, em breve, anunciaremos mais um investimento no país”, revela a executiva durante a entrevista.

Imagem:Violka08_CANVA

De forma pragmática, a investidora prefere não quantificar o país em meio ao Continente mas qualificá-lo. “As projeções da Capria para o Brasil ou para a América Latina não são baseadas em porcentagens, mas sim em qual região/país oferece maior possibilidade de retorno. Alinhados às tendências atuais, buscaremos fundadores que aproveitem o potencial da IA generativa (Inteligência Artificial com capacidade de criar novas informações, a partir dos dados pré-existentes) para transformar empresas nos setores em que investimos. Estamos confiantes de que a América Latina estará bem representada, temos muitas parcerias com excelentes fundos de VC, além de diversos investimentos já realizados através dos nossos fundos GSI e II.

Por fim, esta VC – que administra fundos com ativos superiores a US$ 200 milhões, no mundo – voltada a investimentos pró-tecnologia interpreta a Inteligência Artificial generativa (IAg) como propulsora da próxima revolução. “A IA generativa pode revolucionar os negócios de duas maneiras fundamentais: aumentando a eficiência operacional e aprimorando produtos e serviços”, define a sócia da Capria, aduzindo em seguida: “Primeiramente, observe empresas como Amazon e Tesla, que já utilizam IA para gerenciamento de estoque e direção autônoma. Ao prever a demanda de estoque ou roteirizar as entregas de maneira otimizada, essas empresas aumentaram significativamente a sua eficiência operacional e a produtividade“.

Concluindo, Susana Garcia lança um alerta para os leitores de Empresas&Negócios: “As empresas que não conseguirem se adaptar enfrentarão uma dura realidade: não apenas seus melhores funcionários buscarão pastos mais verdes, mas o capital de investimento fluirá rapidamente para organizações que aproveitam o poder desta. Organizações que não desejarem ou demorarem a adotar a IAg sofrerão uma fuga significativa de cérebros, à medida que o talento migrará para as empresas com visão de futuro. O atraso na adoção resulta em uma cascata perigosa: a produtividade operacional diminui, causando margens mais estreitas e lucros reduzidos, o que leva a produtos e serviços inferiores, com a consequente diminuição de receita”.